terça-feira, 23 de março de 2010

Conjeturas sobre César

As paredes, bem como as pessoas,
parecem querer me contar sobre a monotonia,
pois o meu tempo é dos sentimentos decaídos
e tudo, em verdade, só nos expressa profunda tristeza.

Heia! Jactância febril
que exige da vida a merda, o cuspe e o carma!;
ser, nessas tardes sem vida, o calor do sol em verão
que queima o asfalto negro das longas avenidas
infestadas de carros e néscios com seguros de vida e morte;
que o óbulo não basta à gente paupérrima que apodrece o ar
com o elixir pútrido das sobras de comida que é expelido de suas peles;
que parece ter chegado mais perto o inferno de nossas casas,
aglomeradas - transbordando pelas janelas - de pessoas decadentes
- porém, todas com contas no banco e olhos na vida do vizinho!

Heia! Isso tudo que se faz em cinza;
o pó nodoando o verniz liso da estante dos livros,
porque Platão e Jesus são o moto-contínuo da história
e César, mesmo com a sua coroa, quando lhe apertava às tripas
as necessidades orgânicas, que são de todos os homens,
também César cagava e chego a pensar
que também César sentia medo!

- E viva ao medo e a merda de César!

E admiro a história por isso: por se verter sobre ela
a certeza que reduz plebeus e nobres a meros humanos,
tendo ambos de ir ao peito mamífero por se terem feito gente todos no leite materno,
e isso é mais importante que qualquer tratado de metafísica ou poema épico,
pois não há cogitação de humano que seja que possa exceder o pensamento!
E não há Uno que alegre um ser empossado da certeza da morte,
porque a morte é a limitação e, se se vive, se deseja, ante o absurdo que é tudo,
extrair das vísceras de tudo o excedimento!

Chega...

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