quinta-feira, 13 de maio de 2010

Don Juanismo

Apocalípticos dias em que o mundo me parece mais pesado, em que um sorriso me faz mal e em que pareço odiar toda gente. São dias nos quais a máscara do ser humano e doméstico cai, deixando à mostra um homem no seu estado retrógrado, nu como os que se banham nas praias de nudismo, desvencilhado do mínimo que seja de hipocrisia.

Se pudessem parar, por dois minutos apenas, o mundo e, durante esse tempo, fosse feita uma pintura instantânea das imagens ou se tirasse uma fotografia, que bela e absurda arte não daria essa cena do inferno cotidiano? Quantos museus não disputariam a honra de hospitalizar essas cores mórbidas? Talvez até Goya e Dali se levantassem de suas tumbas e, com aplausos diabólicos, começassem a saudar esse clímax artístico, essa penetração sincera na imperfeição que anda calada sobre as horas.

Mas o tempo não pára e somos obrigados a contemplar esse quadro de agruras e declives assim, em movimento. Só poderia curar as minhas mágoas, aliviar o meu ressentimento e, finalmente, ser feliz, se me fosse concedido o direito de chorar e tremer por longas décadas numa vida igual a esta mas que fosse, ao mesmo tempo, diferente desta. Preciso de deus como o ébrio precisa de novos fígados. As muletas dormem tristes esperando que calhe em nós as vaidades. Se não nos submetemos, não é por inteligência, mas por orgulho e arrogância, essas coisas deliberadas em momentos de tempestades. A bem da verdade, todo homem sente vontade de se ajoelhar perante à sua imagem. Temos o vício do amor próprio. Por uma casta dos feios, vis e oprimidos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário