domingo, 27 de junho de 2010

Anarquia e latência

as mãos finitas ousam o ato:
escorrego-as sobre as partes de sua bunda.
e sei que a bermuda preta é da quinta passada,
e que você não se banha faz dias
e por isso sua camisa de propaganda política
é suja e os seus cabelos rentes e negros,
como os de uma princesa banhada em primavera,
por isso também são sujos.

pouco me importa,
estou longe das capitais e da gente que me é conhecida,
dos que bebem com moderação e não dão
arrotos estrondosos em plena mesa.

sou um porco e gosto mesmo dessa pocilga
onde nos jogamos em cinzeiros com fundas poças
de álcool.
não convém a razão engomada
estando nós em cerimônia tão pútrida.
basta-nos sermos pútridos igualmente
e gargalharmos sem que lembremos da fome
e de que não há escolas.

falo de coisas concretas,
sobre essa mão ousada e não satisfeita
que deseja, carnívora e humana, o a mais,
descendo, profusa e anárquica, nos oceanos escuros
dos vastos pêlos viscosos.

ando por sobre as hóstias,
por seu corpo lembrando Eva,
e não me machuca à pureza saber que sou o pecado.
ajo em nome da religião mundana que faz
do perene o seu mandamento mais importante,
e se meu ato impacienta os de pudor varrido e alvejado,
peço que não se espantem tanto:
- a minha filosofia é a da latência!

Um comentário:

  1. "basta-nos sermos pútridos igualmente
    e gargalharmos sem que lembremos da fome
    e de que não há escolas"

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