segunda-feira, 7 de junho de 2010

Sexta

as sextas-feiras dos bares
com banheiros entupidos de merda,
cujo chão ensopado de urina e água suja,
exclama, nas narinas sob as quais os cigarros
são dispendiados, o podre cruel
da falta de limpeza de um mês inteiro.

as faces que se lançam, entre mesas,
umas sobre as outras, excedem o tempo para o engulho,
e deve-se remoer a vontade do vômito e do mijo,
o que desperta a náusea extrema dentro das veias e barriga,
num próximo copo transbordante em cerveja.

o desgaste dos assuntos prementes,
faz urdir, de retina a retina, o efeito
da sonolencia escondida na vigésima garrafa;
bocas se abrem sofregas, embriagando a quem
o recebe o ar azedo dispensado através
do esofago melado de molho.

(forte cheiro de carne enxaguada em cerva.
como tudo fede na sexta.nem a cara lânguida
da mulher enrustida sob as suas roupas respeitosas.
nem o jeito másculo do homem que, desde o começo,
aspirou poeta o derradeiro instante no motel.
como tudo fede na sexta!)

abandono os que perscrutei sem pausa
durante a minha estadia sentado na mesa.
oito cervejas e um tira-gosto,
o que contabiliza mais de vinte reais.
vejo-os ainda indo embora;
saem todos felizes num Vectra negro.

(chego em casa e calculo esse poema.
escrever é exercitar a solidão
e o repúdio.)

Um comentário:

  1. 'Grandes poetas morrem em penicos fumegantes de merda', achei o poema bacana.

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