quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Recordando Van Gogh

Eu também não arrancaria a orelha. Van Gogh cortou à sua. Não caminharia, sozinho, pela Paris friorenta. Nem ficaria, pensante, trancado num quarto. Talvez esquecesse meu pai e deixasse a correspondência diária mofando na caixa de correio. Os burocratas e amigos que fossem às favas. Daria, mais uma vez, uma chance. Quem sabe não me precipitasse, plenamente feliz, sobre as raias do destino. Sobra disso, apenas, um balbucio na boca, como se tropeçasse uma quimera bêbada no coração. Seria outro certamente. Correria pelo campo no meio das tardes, após o banho de lavanda, retesando nos chinelos a areia da pequena roça, e também capins e folhas. Este, transeunte inesperado da minha memória, quem seria? Eu ou um pintor? A realidade ou um sonho?

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