terça-feira, 9 de novembro de 2010

Manifesto da arte negra

Embora seja um tenaz admirador de Hermann Nitsch, penso que se me fossem dadas as oportunidades e instrumentos para desenvolver uma linha de pensamento artístico que se enquadrasse à perspectiva do vienense, não submeteria o meu senso de doença à lentidão que permeia as intervenções do referido artista. A arte hedionda precisa estar, inequivocamente, fora do corpo, de tal modo que aquilo que é esboçado sobre ele, aos olhos da platéia, possa chegar recheado dos mais variados contornos e dos mais horrendos dramas. Quando penso no meu ideal artístico, sinto-me, talvez, não muito diferente daqueles que vêem a arte como um membro com vida própria, o que implica dizer que, porquanto haja uma obra que se concretiza num plano objetivamente imóvel e real, no que diz respeito ao ponto-de-vista de quem a traz às luzes do conhecimento, qualquer realização artística é, na verdade, uma intervenção incompleta. Isso posto, o quadro mais belo que pude contemplar não foi A Vampira de Münch, ou O Filósofo de Rembrandt, mas o quadro negro defronte do qual passava todas as manhãs a receber os ensinamentos de base. A necessidade de mais traços é, noutras palavras, a prevalência do negro como corporificação da totalidade, o anseio de se chegar à unicidade do lúgubre puro - e, quando exijo movimentos mais acelerados em relação às obras do Hermann Nitsch, imediatamente estou ratificando a teoria da arte negra. O artista, seja qual for, esbarrará sempre no eixo daquilo que o levaria ao apogeu de sua técnica, ao apuramento do seu traço: o transcendental. Quando ele olha para uma árvore e vê nela a magia indiferente aos olhos comuns, e assim deseja retratá-la, a capa obscura sob a qual dorme não fora desnudada; há, sobre ela, ainda muitos traços por se descobrir. Mas, mesmo assim, ele a pinta e recebe aplausos por isso; todavia, no seu íntimo, a coloração utilizada ainda necessitava qualquer retoque - na verdade, melhoramentos infinitos. Nisso o que há é o desejo inconsciente do negro absurdo; a necessidade de se desenhar o que não se pode ver, pois todos os artistas aspiram realizações divinas, e só conseguem a representação limitada. Desse modo, aqui abro lacunas para um movimento de um só adepto, eu mesmo, com apenas uma obra realizada, A lúgubre forma, de mais acima. E embora os conservadores e materialistas, acredito ter feito algo inovador e com muito respaldo.

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