sábado, 12 de fevereiro de 2011

Da importância de ser gentio

Assim falaram-me os gentios sobre o profeta nu: dar-nos-emos castigo rigoroso se, em vista da possibilidade de encontrarmo-nos mais uma vez com o profeta despido, destratarmo-lo, descuindando de valorarmos a sua inconteste sabedoria, que aquiesce e ilumina tanto quanto um sol maravilhoso de primavera, em vez de antemão enaltecermo-na. Vários centímetros de barba branca desenrolam-se do seu queixo; desprendido de contendores, a lisura dos cabelos alvos alcançam o fim das costas; de olhos verdes, pele morena e saudável, o ar de descanso de que ostenta dar-lhe aspecto jovial. Comumente, ao abrigo da mão fechada, traz um livro de capa encouraçada. Nele, escreve aforismos para a sabedoria e reflexões sobre as escrituras sagradas. Chamam-no, quando não carecem dos seus serviços, homem, mas, quando opera os seus milagres, reconhecem-no por santo. É do nosso dever adorá-lo e aos teus pés, em ato de reverência, nos curvarmos. Mas quem dessa maneira conscienciosa age? Só nós, os gentios - pagãos quanto às certezas. Do outro lado, nas avenidas movimentadas da existência, fazem festas e enaltecem, com júbilo incomum, o deus metal. Suas mentes, alienadas pelos provérbios frugais do mundo, são pútridas, podres, fezes!, destituídas da criatividade laboriosa e cativas, porque limpam e cozem para realidades de plástico. E esquecem do profeta que, nu, elevou ao céu folhas caídas e fez sorrir os pássaros.

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