quarta-feira, 1 de junho de 2011

Crítica da razão pseudo-estóica

A utilidade do espírito num tempo sem alma baseia-se principalmente na repetição do simples axioma: tudo é vazio. O homem espirituoso recolheu-se a uma cara fechada. É nauseabundo e indiferente. Por vezes pode-se esbarrar com espíritos cintilantes, dos quais poder-se-ia colher boa safra, resguardados num frágil mundo de encantos sem sentido, onde a plenitude da vida parece se realizar quando o ser que a alcança castra-se dos desejos mais normais, apartando-se das mínimas particularidades estabelecidas como paradigmas entre os comuns. A felicidade para eles, diferindo de como a vêem os seres que desfrutam de pouco conhecimento analítico, consiste num fatalismo lógico e exangue, a partir do qual nada que contenha esperança sobressai, salientando-se unicamente as coisas tal como estão dadas – sem sentido algum. Ainda que a crítica, mesmo que simplória, esteja feita, deparamo-nos, sobretudo hoje, com as mais variadas aporias. Doutro modo, a realização do sentido se dá ao passo que toda a busca parece esbarrar na incógnita, não havendo caminhos alternativos para além da interrogação. Mesmo que inseridos num dado contexto, as carências que temos determinarão o grau de fixação que mantemos com esse ambiente hipotético, sendo, no mais das vezes, muito pouco seguro, instável e inconsistente. Ao contrário do que se tem dito, a vontade de igualdade agita-se nas nossas almas, mesmo que sejamos impulsionados a querê-la estando dimensionada a partir de cima. E, se não é assim num sentido amplo, é pelo menos em parte, uma vez que se desejamos para nós, por exemplo, uma vida material destituída de extravagâncias, à vista do primeiro ser cuja aparência remonta o que se entende por ideal, endossamos o gosto estético burguês e desejamos tê-lo. Muitos apelos, embora suscitados também por fatores exteriores ao indivíduo, se dão mais por força do instinto que nos é natural do que por cumprimento consciente das conveniências.

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