quinta-feira, 14 de julho de 2011

Dos nervos

Há de estrangular-me os nervos e a energia da vontade, de reduzir-me ao silêncio e ao pó. Há de se apor ao caminho que meus pés cruzam, aos rumos tomados por todos os meus pensamentos. Há de ser maior que as virtudes e os temas importantes; mais compacto que os exércitos organizados; naturalmente inominável feito algo que se desconhece. Há de ser súbito, claro, uma espécie absurda de chama, de forma tal que será repugnante olhá-lo seriamente a fisionomia apenas uns poucos segundos. Há de esfarinhar as proposições consistentes, de aniquilar as verdades cujas mortes serão executadas hediondamente. Há de causar prantos e de pisar violentamente às lágrimas após caírem, romântica e nojentamente, dos olhos frágeis. Há de tomar rusticamente o bom-senso por entre os dedos e, paulatinamente, como se para esses malabarismos dispusesse de investigativa cautela filosófica, fará dele uma massa amolecida, tal será a força usada para amassá-lo. Há de entrar pelas retinas como lâmina, realmente, atingindo por acidente as idéias mais sadias arquivadas no cérebro, e suscitará largo fogaréu nas partes em que a alma não peca e é agradável. Estará carregando nas mãos trêmulas todos os livros e saltarão de sua língua, concomitantemente, todas as frases sujas, límpidas estrofes acerca do incesto. Há, por isso, de ser versado, subjetivo a ponto de irromper contra as palavras mais enxutas, sem emoção, puramente racionais. – Mas, se em todo caso não sou louco, se sou em vez disso absurdamente lúcido, para que eu escrevo isso? – “Porque escrever é a minha forma de estar sozinho“.

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