sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Dos achados

Um rosto candente se deixa afagar por minha mão lisonjeira. Desbravadora, friccionada de leve contra a lã macia, tremula o receio de desgastá-la demais, arrancando-lhe de todo o perfume verde e à beleza do tecido cada ponto cerzido com perfeição. Não se trata de conversa exaustiva ao pé da cama, onde o gládio de duas cabeças superiores retiram de cada segundo que as une a espontaneidade e a liberdade fagueira do momento arranjado para ser assim, agradável mesmo. Trata-se, pois, do silêncio, da ausência cujo clima vespertino só concede ao olhar bem-vivido uma licença: adorar, também envolto em mudez, a pequena cabeça que jaz inocente sobre o travesseiro velho, as pernas torneadas da criança que se fez mulher muito cedo, a feição sonhadora de quem sabe muito pouco sobre os planos e que não se deixou ruir às lutas e às razões que emporcalham, manchando a beleza e ofuscando o brio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário