quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Esse atarefamento estúpido!

Como se houvesse nascido deficiente, geneticamente deplorável, trancaram-me o corpo em uma camisa de força. Sem que eu explorasse vivências, absorvendo delas o encanto da primeira vez, nunca intencionaram que eu achasse os meus tesouros, dando-me todos, sem exceção, o metal sem brio, do qual nada pode ser forjado. Puseram-se, desde cedo, sob o encalço das minhas passadas, coagindo-me, corujamente, da possibilidade do risco. Quando alcancei os 15 anos, pela primeira vez, foram mais ríspidos ao apontarem o dedo inquisitivo contra o meu rosto, e retiram-me do colo o violão em que dedilhava, hora após hora, quatro estrofes paupérrimas que eu mesmo escrevi. Veio, então, a maioridade, fase em que o antigo broto alcança o último estágio do seu pleno desenvolvimento - atado ao seu lastro, as exigências mais severas e irreais. Dentre elas, aquela que ocasionou em mim mais medo não foi, como antes, mais aplicação aos estudos e melhores notas: pediram-me que eu lhes soltasse a mão-de-ferro, pois já nenhum astro orbitava em torno do meu eixo. Hoje, experimentado, observo o expediente fatídico a exemplo de quem reflete, restando-me como um consolo a logicidade enregelada da indagação: assim, sozinho, hei de poder caminhar? Para onde? Para quê?

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