terça-feira, 13 de março de 2012

Sim!

Oh, sim, posso insinuar tantas coisas, em tantas posso encontrar a objeção que alimenta do mesmo modo que o pão e a carne, que o direito de arrogar contra a própria vida me foi vedado. Ontem eu era aquele que descia os corredores sobre os joelhos e de cabeça baixa; aquele que sentia vergonha do fardo que lhe fora jogado às costas e que, indiferente e pretensioso, cogitava combater as adversidades de um tempo fétido sendo taciturno. Pelos deuses, quão injusto com cada dia eu fui, reduzindo a todos eles o horizonte atrás do qual nascem sorrindo, em forma de um sol laranja e ondulado! Quantas auroras quiseram me felicitar com sua graça e eu, entre paredes, escondi-me da possibilidade de ser festejado, amputado das duas pernas para vivenciá-las em sua beleza e seu calor, de igual modo que o doente descrente em sua recuperação entrega à morte, como óbulo, a vitalidade ainda restante. Como o meu tempo, com sua clownaria insuportável, atuou sobre os meus impulsos intentando deplorá-los, a ponto de fazer-me desejar ser um comum, sujeitando os instintos de que sou dono à certeza irreparável da morte absoluta. Ah, eu nunca houvera sido sagaz o suficiente para pegá-los, quando os vi agir, em flagrante, reparando-lhes o ato ilícito que ali punham em prática – ao contrário, cri também que, aclimatando-me, conservava a mim a integridade da vida. Mas, hoje, tive a visão aterradora dos mistérios sucumbindo sob o céu aberto, e os fatos transbordaram da moldura em que foram pintados. Senti que a vida fugia-nos, em sua totalidade mesmo, ao controle, promovendo, gratuitamente, contínuos atos obscuros de onipotência, realizando-se, segundo por segundo, sem porquê, para ninguém, como que num ensaio ininterrupto sobre um palco sem plateia. Ao arrogar contra a vida maldizia, na verdade, o meu tempo – isto é, uma moldura horrorosa.

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