sexta-feira, 1 de junho de 2012

Cative

Os amantes, seguindo o itinerário das madrugadas frias, enlaçam os seus corpos aludindo interjeições profanas, e duas bocas cheias de sede buscam a ventura lânguida e doce da carne labial alheia como a lagoa onírica, em meio à paisagem arenosa pontuada de relevos abaulados, é perseguida atordoadamente pelo desertor sequioso. Outrora os versos perquiriram tais maquinações desesperadas da carne, adentrando noites lancinantes acobertadas de perigos e odores fortes, razão pela qual sempre estiveram tão certos os poemas ao encerrarem, em suas estrofes comumente exatas, os incêndios rubros da alma e do coração. Sobre a mesa suja de uma taberna escandida de rostos amarrotados, os cotovelos de Éluard; em sua mão esquerda, uma brasa alaranjada; os olhos cerrados, induzindo-se à amante de há pouco deixada solitária sobre o leito, correm atrás de rimas e metáforas; e sua vida, imersa no desejo e na aventura, serviçal perpétua da ilusão divina.

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