segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Plotino: Ou o nojo ao corpo

O nada – o primeiro bem! – é a obsessão de Plotino: a rota de fuga por onde se abstrai de suas inseguranças. Incontente com corpo, o discípulo de Platão não mede esforços para difamá-lo: desenha suas limitações como um anatomista revolto, salienta o quanto pode ser impuro e, sendo taxativo, afirma: toda a vida ainda ligada a ele é em si mesma um mal. Advogado da temperança, defensor incondicional da inteligência e da pureza, coloca-se como inimigo dos vícios e da concupiscência – quem sabe por querer ser ele mesmo o Bem cujas almas ambicionam. De estilo sedutor, não é tímido ao abusar das alusões e das metáforas: embora assevere tencionar unicamente a verdade, cada palavra sua aspira à sublimação retórica e desvela a inveja que os filósofos segredam do sofista. Demonizar, contrapor-se à temporalidade sem sentido e entediante – eis aí arte em que Plotino fora perito!

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