domingo, 30 de dezembro de 2012

Walter Benjamin: sobre contemplar as ruínas

Walter Benjamin, em chave teológica, constata que uma visão sobre o passado é suficiente para nos desencantar o presente. Quando adverte-nos sobre a necessidade de mantermos as pegadas de uma humanidade, proscrita de épocas longínquas, intactas, subscreve na filosofia da história aquilo que, enquanto pensador interessado em querelas amplamente debatidas por toda uma tradição, legou-nos de mais lúdico, radical e inovador: a sua tendência de tomar os fatos a partir de diversas perspectivas, articulando uma reflexão filosófica acerca da história com base em referenciais metodológicos convencionalmente antagônicos. Se o marxismo é inflexível ao reconhecer a religião como uma instituição desinteressada em aclarar os homens para a sua situação de seres espoliados por modelos societários historicamente hierarquizados, acentuando o grau de alienação das classes exploradas em relação às condições arbitrárias do trabalho reificante imposto pelos dominadores, Benjamin, aludindo ao messianismo inerente à teologia judaica, coloca-a como constante do seu empreendimento crítico, vislumbrando, no âmbito do sagrado, elementos complementares ao marxismo em sua crítica da sociedade industrial. Desse modo, a teologia exerce a função de componente dialético necessário em sua filosofia da história, reagindo, sempre que preciso, ao entusiasmo progressista característico a vários intelectuais marxistas mediante o avivamento contínuo da imagem dos vencidos, estabelecendo-se na reciclagem da memória o meio mais honesto de redimir àqueles que lutaram no passado e mantêm-se vivos nas esperanças de vitória alimentadas no presente.

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