quarta-feira, 27 de abril de 2022

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Crime Bárbaro. Faz tempo que as manchetes só acedem a notícias positivas para destacar o cortejo vitorioso das equipes de futebol. Fora dessa sublimação projetada em uma manifestação afetiva que, no fundo, não implica acúmulo algum à vida social, o espaço mais relevante dos veículos comunicativos é tanto mais generoso quando o fato abordado está empapado de sangue. O jornalismo processa a delinquência industrialmente, tanto nas páginas online como no programa policial, fomentando uma lucrativa economia da violência. Esta, alijada de suas fundações, é tomada em si mesma, tal como se derivasse de nada ou, pelo menos, de causas misteriosas, para as quais, entretanto, Datena e Marcelo Resende nutrirão pouca curiosidade ou completa indiferença. O crime bárbaro, excetuando-se aquele preconizado pelas disfunções psicológicas que anteparam o homicídio recreativo, contradiz a cólera das explicações cotidianas: antes de tudo, deve-se lembrar que a insensibilidade, esta cegueira latente em relação ao sofrimento do outro, é o ingrediente fundamental de sua matéria, e não há quem nasça geneticamente subjugado por esse sentimento mórbido, cativo do ódio e seus requintes insanos.

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