sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Casa Ocidental

à noite extensa, sem sono e alegria,
prefaciando os capítulos tão certos da grande catástrofe,
esfrio com sopros leves o café rotinado de depois da janta.
salvo os dentes das nossas bocas que cortam a comida,
ter boca é desnecessário. o que nos é elementar, porém, tem erro:
com o tempo tudo se torna cego e esvazia de dentro das nossas veias
os fluxos orgânicos da vontade de existir.
nas salas de estar, instante a instante, se reduz a vida apenas a vida
e, por isso, mesmo que eu cogite a incoerência fundada
nas filosofias incoerentes dos filósofos solitários
sob a luz do conhecimento iluminado por velas pela metade,
percebo que eles têm mais razão do que eu.

ser prático como um projétil que não erra o alvo,
cadenciando cada passo à velocidade dos números pendurados
sobre a parte mais alta das bolsas de valores,
existir como uma metástase de vozes que se permutam
a cada oportunidade de emprego,
derreando a cabeça, todos os órgãos e a alma-número
à tentação de ser pela casa própria e pelo carro novo.
eis tudo, o sumo da virtude alimentado em cada casa ocidental.

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