sábado, 6 de março de 2010

O instante fugidio desta morte

O instante fugidio desta morte.
Expande-se através da janela um vento que
causa-me cócegas à pele vulnerável e fugaz,
lembrando-me à consciência falha que, sobre o
mundo, caminha também a minha vida,
que tão logo, como qualquer outra, findará,
tirando de de cima da mesa familiar
os talheres a mais que eram do que se fora;

e nos altos cumes que se limitam ao derredor alcançado pelas vistas,
uma linha enorme onde se despeja o sol,
tingindo de dor à sua queda,
faz-me que crer que, defronte ao horizonte,
somente o nada é infinito.

E contemplo os dias de uma cama turbulenta,
cabeça apoiada ao travesseiro de algodão e farpas,
levando à boca ressecada os algozes de uma vida sem tempero,
e me embriago ao sabor deste fel que
verto à garganta diariamente,
porque estar bêbado é a minha religião
e não me ensinaram a combater o vício da credulidade.

Pelas tardes, rodeado por transeuntes nauseabundos,
divago no pensamento de uma harmonia plena
perfazendo cada canto das ruas em que passo.
Mas à luz do sol, quando este ainda mantém viva a sua chama,
há tantos espaços naufragados na mesma escuridão
e homens que esperam doentios pela noite
que, sob a ausência de luz, senão por merecimento,
são iguais uns aos outros por lhes faltar algo.

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