quarta-feira, 10 de março de 2010

Ode em Março

Fazer odes em março,
frente à televisão que repassa a notícia do mes passado.
Um homem que matou não sei quem.
Tão estranho quanto pensar que o máximo que se produz são assassinos.
Nunca vi no telejornal nenhuma notícia sobre os salteadores
que fazem vigílias diante dos livros
nem sobre um cliente que acalentasse, com o mesmo cinismo que à sua mulher,
à uma puta - muito embora as duas lhe cobrem o pecúnio.

Não seria a satisfação...

Como cogito, está tudo aquém.
Além dos limites que nos são impostos por cada porta fechada.
E as almas que jantam à mesma mesa para, depois da televisão,
incorrerem no sono sob um teto igual, se conhecem...
Quem me dera a felicidade dos foliões que pulam.
Mas só me resta conjugar os verbos,
dar movimento à vida em  palavras.
Talvez o médico me indique a patologia.
Um pequena nevralgia latejando na veia esquerda da cabeça.
Sim, estou doente:
percebam os meus olhos - os matizes do ano passado.
Um cancro horrível em reflexo nas retinas.
Outro dia, quando passeava, me disseram que eu estava muito bem.
Devem ter razão.
Eles sempre sabem mais.
Não à toa é aquele sono terrível durante a aula.
As cruzadas, a aritmética, o relevo e a taxonomia...
Na terceira série, ainda me lembro, eu era um bom aluno.
Não aceitaram e eu caí nesse sonho de paisagens estranhas
onde o primário não é coisa distinta...

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