terça-feira, 6 de abril de 2010

O haver

Mortos são estes que caminham em vida
e dão substancia à sua prole fincando-se dentro de nichos
fundidos sobre blocos alaranjados e cimento. Todos cheios de sentimentos
e afeitos à psicologia daqueles que vêm ter com suas mãos
nas intermitentes noites de sono, porque as suas vidas se debatem
e suam pela cama mas o tédio, ora, o tédio!, não é uma pequena partícula
insípida que se permite distrair com avantajados goles de vinho.

- Pois que deixemos as almas para os espíritas!
Só há redenção e justiça mediante o encontro das carnes que se fundem
expelindo sangue!

E se olha o tempo das pequenas cadeiras nas quais os
nossos corpos, estarrecidos, esperam, calmos, pela morte.
Os ouvidos são atacados pelos grilos que, noite à fora, parecem
prenunciar as verdadeiras intenções da natureza,
e de dentro das árvores ruboresce os misteriosos olhos em chamas
do mito que se apóia a uma bengala há já tantos séculos.
Corvos e corujas que batem asas juntas, por um momento,
num enlace onde Satã parece gargalhar e dizer "À liberdade!",
fundem os seus corpos cheios de pena num coito insano.

E ao reflexo sacal no espelho, pergunto:
"Por que está tudo assim?"
 "Esse abismo dá na onde?"
"O certo?"
"O errado?"
"Tudo, enfim?"

Mas só há incógnitas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário