terça-feira, 1 de junho de 2010

Reflexão

seus desabrigados andam soltos pelas ruas,
fazendo ponto no horizonte de teses partidárias.
dentro das frases sobre a fome quem passa fome é mero adjetivo,
uma excrescência gramatical posta para adornar um discurso velho.
e me culpam pelo pão que não tirei da boca
daquele que jazia esquelético na calçada suja e crivada por marcas de chicletes.
se tingem com tintas leves à novela do nosso apodrecimento diário,
não empobrecerei a arte em virtude de que todos possam ter o de comer e onde morar,
porque um bom quadro é o reflexo perfeito de uma política má,
que desterra, mata e deseduca, servindo de matéria-prima
para que os poetas tenham às mãos o seu serão com a barbárie.
e a dor do próximo tem o seu valor: afinal, o que é o mercado das artes?

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