sábado, 5 de junho de 2010

Velho

Farpas e mais farpas.
Já não basta aos ouvidos o sacro da música de Arvo Pärt,
pois encontrei no lodo dos vícios a nota ausente em toda melodia.
derretera-se com o gelo o gosto pelo vinho puro;
quando o bebo me acena de longe ou de perto a piteira envernizada do meu cachimbo.

Minha mãe entra no quarto de repente,
e me lembra da consulta de segunda-feira.
Traz-me à memória as patologias ainda frescas identificadas
pelas mãos científicas de doutor Ivaldo:
"Você tá com pressão alta e não pára de beber e fumar.
Meu filho, pelo amor de deus, mude de vida enquanto tem 19 anos..."

Entendo as suas considerações, não obstante, respeito-as
sobretudo por saber que ela, boa mãe nascida em 60,
perdeu a faculdade de sentir o cheiro:
estou apodrecido por dentro.

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