segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Über

Dizer que a vida vai mal é abusar da pretensão humana e desdenhar da nossa poderosa fisiologia. Não há dia em que, no meu caminho, não encontre um moribundo para me falar das suas doenças do espírito, de modo que eu possa me compadecer por suas dores carregando-lhe nas costas - servindo-lhe de maca ou de divã. Que tenho eu, entretanto, com as feridas que em mim não ardem ou com lágrimas de olhos que não são meus? A compaixão é um sentimento hediondo por mal-educar a alma a estar sempre necessitando de bengalas; trabalhando, a esse mesmo propósito, tudo que faça o homem vir a perder o foco de si mesmo - de suas necessidades mais elementares. Com raras exceções, os elementos da vida correspondem a frivolidades - são adornos, a exemplo da religião, que carcomem o espírito, minando-lhe de esperanças bobas. Aos diabos quem não reconhece que além da carne só há morte, algo que nunca deixará de ser por nós incognoscível e aquém dessa trivial realidade da carne e do osso. Que se grite glórias por termos todo esse vazio e essa vã linguagem como certezas indissolúveis!

2 comentários:

  1. o espírito moribundo fala de sua doença do espírito, não necessariamente porque espera compaixão. às vezes ele espera encontrar ele mesmo no outro. quer descobrir que não é o único que sofre dessa doença.. porquê? porque se muita gente tem uma doença, então ela deixa de ser uma doença. E se todos a tem, então a doença é não estar doente.

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