sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Carta aberta aos que amam como eu

Caros leitores, há poucos dias abri o meu coração, transbordante dos sentimentos mais ternos, a uma menina por quem comecei a cultivar a cálida flor do amor. A mesma, como se não fizesse caso das minhas emoções, simplesmente mostrou-se indiferente aos apelos da minha alma. Em situações como essa, meus caros, é que me pergunto sobre o valor do raciocínio, dos grandes argumentos, por se transfigurarem, paralelos a quem olhamos tenros, como objetos ocasionais, sem distinção de valor nenhuma. A poesia que colhemos nos tantos livros de autores aos quais admiramos, faz-se pouco eloqüente diante da falta de lirismo subjacente à realidade, e resta, a pessoas como eu, impelidas à solidão involuntária, o marasmo de curtir os dias como um corcunda por quem nutrissem o asco e a indiferença. A natureza humana, por mais abjeta que seja, entristece-se com isso - carecemos, todos, de uma largura de atenção. Os olhos sociais são muito severos, tanto mais severos, em realidade, que o são os dos meus mestres, sempre implacáveis e impassíveis ao perdão. Às vezes fito-me uma fotografia antiga, cunhado em preto e branco num papel muito liso, sendo pegada por mãos de saudade e esquecimento, para logo voltar à sua estante velha, ornamentando de nostalgia um cômodo qualquer de uma casa aleatória. Ao que nos condiciona essa cena, esboçada por força de manter-me ao tom correto, é à tristeza, à angústia, posto que todos os elementos que lhe são concernentes, invariavelmente, são mornos, recheados de lassidão e cinza, qual uma pintura de Münch. Quando somos repelidos pela fina-flor do amor, revogados pelo único sentimento que faz justiça ao maçante existir da vida, adentramos no terreno daquilo a que costumo chamar 'princípio da incomunicabilidade'; que é, por assim dizer, uma filosofia no prelo, a partir da qual estabelecemos premissas à falta de resposta e à impossibilidade de ser proferida a locução do que não tem nome, que corresponde a uma devastadora dor íntima. Enfim, tudo isso, defronte da complexidade dos temas elencados por nossa vã filosofia, não passa de frivolidades. O grande passo é esquecer-se de tudo. E quanto a dúvida, perdeu-se por entre as minhas quimeras enquanto divagava as linhas supracitadas.

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