quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Da amizade

Não cantarei as alegrias do verão passado, quando perscrutávamos os cantos da cidade embevecidos numa felicidade sem precedentes, e a nossa amizade era flor que acabava de desnudar as suas primeiras cores. O amálgama da vida é mais importante porque, no seu modus operandi silencioso e obscuro, enferruja às grandes construções, erigidas por força do destino, nos momentos em que a vida nos permite a dispersão. Cada qual, escravo de si mesmo, vítima do cancro das necessidades - absorto em rotas de tédio a fim de conquistar quinhões de nada. Atento-me, porém, à fantasmagoria das questões opacas e, contrariando o rigor dos nossos excedentes, sempre torno a me perguntar "O que são as amizades?". Murmúrios ao pé do ouvido após termos ganhado o território da intimidade. Risos aleatórios às vezes por coisa tão pouca. Quão simplórios, ao nos vermos todos os dias, somos uns com os outros. E sempre olvidaremos que as conversas de agora são realizações oníricas pois, de lá de fora, onde o nevoeiro tenebroso os submete à demência, nos reclamam posturas mais objetivas e humanas. Sendo assim, o que são as amizades? São relações vigiadas por um terceiro elemento: a estagnação.

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