sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Sobre o grito direcionado a Pirro de Élis ou Um tema grego

Chamem Pirro de Élis pois há um buraco na frente e eu não sei se avançando periga que eu caia. Em em virtude daqueles que pisam nas flores por temerem o seu crescimento, impedindo-as de expelir ao ar denso o perfume acumulado, chamem Pirro de Élis. Mais um naufrágio prematuro nos mares sombrios de um quarto pequeno; mais um corpo sem amor próprio lançado do último andar de um prédio que topa no céu; e é pela ignorância dele, que não sabe muito bem o que faz ao tratar as confeitarias com cupidez e atenção, que devemos chamar Pirro de Élis. Pela genuflexão irrisória daquele que foi emudecido pelos cochichos da multidão enquanto chamava por Deus; pela alma vazia do poeta que não conseguiu cantar a vida como se visse o arcanjo da Paurosia com o estandarte da redenção erguido a um braço esticado; por todas as frustrações e lágrimas vertidas, estas que sempre estiveram à margem da busca por qualquer alegria de vento, é que devemos chamar Pirro de Élis. Nos poliedros dos duros tribunais inquestionáveis, nos centros das gentes civilizadas e passionais, nas enfermarias onde os decaídos gemem seu sangue, em todos os lugares e em todos os momentos, devemos gritar, coletivamente, uma só frase: chamem Pirro de Élis!

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