quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um natal etílico para todos

Acácia, fazendo bolos na cozinha, já se vestiu de felicidade - a lágrima que sobrevivia implícita escorreu para o ralo do esquecimento - mesmo com a mãe morta, vítima do câncer há um mês, não conseguiu resistir à alegria reclamada nos anúncios de televisão - e, contente, se fez escrava da tirania de papai Noel.

Ela espera o fim do expediente para alongar os cabelos - quer estar bonita para as comemorações de fim de ano - aguarda que o festivo bater da meia-noite, em que estará vestida numa camiseta branca, lhe traga tudo que não tivera no ano que se junta a todos da história e que foram tão iguais quanto este.

O marido, desde sempre, se mostrara um bruto - nunca ousou um gesto de delicadeza nesse ser vulnerável - à parte os constantes pedidos de economia e as grossas reprimendas nos meninos, as únicas frases que têm trocado são os gemidos fugidios ao momento do coito.

A arte é bela e este não é um conto de natal - enquanto eles bebem não lembram da agonia que virá junto com os primeiros raios solares - os seus problemas se diluem nas pernas abertas dos frangos carnudos - ao passo que a leve brisa do mundo resfria à noite lá fora.

Disfunção dos sentidos e libertação da alma do corpo - nisso se resume o que todos querem - se fazem de Jesus Cristo uma desculpa para encher a cara é porque somente no álcool jaz qualquer resquício de verdade.

Sendo assim, um natal de exagero para todos!

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