domingo, 23 de janeiro de 2011

Nos cumes do desespero

Na falta do que fazer, duro e direto, há Graciliano. Angústia, é este o livro que leio, enredando-me por páginas de caleidoscópio e frases somadas com finalidade ao sentido, encerrando mais de cinco capítulos inteiros sem saber o que, em todos eles, o autor me diz. São nove da noite e os olhos ardem; a língua queimada dos sucessivos cigarros de sexta-feira incomoda-me, enfeza-me; por gula, sem distinguir o sabor do almoço e o tempero do jantar, como e repito, em igual quantidade, o que comi, e costumam dizer que isso é ansiedade. Tempo desperdiçado frente a esta máquina muda e incapaz de me revelar uma verdade. Coerência, da maneira que a penso, seria jogar, contra a parede, esta cabeça débil; rentável oficina do diabo. Falta-me, entretanto, a coragem do louco e o vazio do suicidada; assim, portanto, reservo-me a andar de um lado a outro sem chegar a lugar algum. As paixões, se fossem de carne, as morderia, porque a vontade que tenho é a de maltratar e fazer doer um epitélio. Algo pula demais dentro dessas veias vãs - algo quer ser jogado pra fora como quando cuspimos catarro por estarmos doente. O que é, se me perguntam, eu não sei - mas como tudo que tenho remoído, à revelia do desejo acumulado por uma paz extrema, é desumano e mais nada. Pois que eu naufrague, que eu calhe distante no fundo de um mar salgado e ninguém me socorra! Sou doido até nas horas vagas; as soluções a que chego estão no campo do impossível - em grande quantidade, são produtos da imaginação, são crias do delírio. Suo agora uma água muito gélida, e o espírito parece escorregar pelas axilas e pelas costas - concentrado numa pequena gota, ele cai ao chão cinzento de tanto pó. Eu também caio e, por cima de mim, o mundo, incrivelmente insuportável, desaba. Sufoco na garganta um grito louco e, se emudeço, é para que a dor seja mais insana. Janeiro, com todas as gentes e prévias carnavalescas me pisa, e eu sou todo liberação de espermatozóides nas entranhas profundas do nada. Sinto fome insaciável do corpo de Cristo e trago em mim toda maldade e fundamentalismo dos papas. Um saco, no qual eu possa me descarregar, desejo, mas enquanto não o tenho, como que possuído, ou até mesmo nervoso num banco da igreja católica, arranho-me tentando coçar por dentro uma parte ulterior ao cérebro. Destruam-me!

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