terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Excerto sobre o valor

O que faço não vale nada. Tenho estado inerte na hora de gritar pelos oprimidos e indiferente em vista de fazer aumentar os excedentes dos abastados. Chamo por Deus todos os dias; peço-lhe, como um doente que quisesse convalescer mas estivesse em estado terminal, um norte, uma saída; em resposta às minhas lamentações angustiadas, como que ironicamente, o que ouço são verbos ríspidos e domesticados: aja, faça, seja... ame. Como o homem moderno, ainda mancebo em lidar com o mundo, corro atrás de argumentos que sanem o que duvido. Ele pensa e raciocina, porém diante de erros os quais não fomentou, a exemplo de uma pequena criança que se entristecesse com os problemas sociais da África, não sabe o que fazer, trancafia-se no quarto e chega a conclusões que porão no lugar as desajustadas peças do mundo. Vendo que à sua dispendiosa obra ainda resta incontável número de lacunas, frustra-se e joga os seus papéis sobre mesa bagunçada - as idéias cintilantes se ofuscam em presença das que já estavam ali. Ele está cansado; pensou e escreveu demais; mão ao queixo enquanto o suor frio escorre pela tez preocupada. No fim do túnel uma luz se torna fosca e, na presença do impossível, perplexo defronte da paisagem pintada para além da janela aberta, começa a escrever um poema sobre as pessoas e carros que cortam a rua lá fora, cogitando que chegou por fim a uma verdade absoluta.

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