quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Epitáfio

Derrotado pelas circunstâncias naturais impostas por um destino trágico, delirou e foi mau para si mesmo enquanto pôde. Imbuído, como os seus, de pretensões humanas, também arquitetou sobre as misérias do corpo bosques e castelos. Jamais atentou contra a integridade física de quem quer que seja, nem nunca desejou tirar a paz de quem estava sossegado. Muito mais do que um capricho do estilo, se falou com vigor áspero, foi contra aqueles que tentaram fazer dos desvarios pessoais uma fôrma generalizante, a fim de impedir a ascensão do sono e da preguiça de quem nasceu impossibilitado para o ânimo. Não teve sentimentos elevados e nem família - abjeto tal como um cão, mantivera-se disponível aos pés da racionalidade durante anos insossos. Orou, vislumbrando o espetáculo do sol tórrido nascendo, aos infortúnios da natureza, pedindo explicações sobre o porquê dessa trapaça cósmica. Esteve senão aos cantos, intercalado entre a incógnita e o desespero, procurando sempre repousar à sua própria sombra. Como qualquer homem, comeu, bebeu e excretou. Na falta do que fazer, como se não quisesse padecer ao tédio, amou apenas a dúvida.

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