quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Sobre a vida

Os pobres exercem, tanto quanto os ricos, papel de protagonistas, bem como são protagonistas aqueles que lutam para que a pobreza protele o seu fim e também os que lutam para que ela cesse o quanto antes. Viver, se não aceitamos a condição contingencial da natureza, torna-se busca vã pela imposição de uma exigência estética. A condição de equilíbrio pressupõe limitação no campo das artes: se a alma é tranquila e os campos são vastos e de todos, Shakespeare e Zolá tornam-se impossíveis. Diante disso, a condição de aceitação figura-se, aos nossos olhos, argentada, condenando-nos, frente à ausência de uma possibilidade alternativa e ampla, à imobilidade e à inércia, com as quais a inteligência não seria atributo do gênio nem das massas, e logo em pouco, tão grande o tédio, se ergueria como meio de contestação pelas diferenças, dando aos homens, de volta, o caos das artes. Recusar-se, fazer deferência e exigir, ao entendimento de quem debruça-se sobre si mesmo, são fragmentos que, juntos, originam um perfeito quebra-cabeça. À maldade do déspota afeito ao derramar do sangue inocente é fundamental a existência do subversivo que, por conta da luta, não se indispõe em vista da morte. As peças estão todas no lugar correto, e se me pedissem, colocados estes pontos, para definir a vida, diria dela uma conspiração contra o desejo individual, ou ainda, uma entropia coletiva.

Um comentário:

  1. o princípio supremo: o acaso, e o caos. Se um dia eu chegar a uma sala de aula, digo o que farei no primeiro dia de aula - jogarei uma moeda ao ar e direi "se der cara, eu passo todo mundo. Mas se der coroa, eu reprovo todo mundo."

    pois eu ali estava.

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