segunda-feira, 21 de março de 2011

Acidente exemplar

Ao longo da avenida, cortada continuamente por carros velozes, pessoas, somadas em quantidades consideráveis, preenchiam os bares e restaurantes, ostentando no rosto largos sorrisos de pura felicidade, vistos principalmente quando há o excessivo consumo. Sobre as mesas, maços de cigarro e incontáveis garrafas, rostos brancos comunicando-se mutuamente, na superfície dos quais leve brilho de suor, motivado pelo calor exorbitante, se estampava. Casais beijando-se com zelo em pontos alternados, de onde uma intemperança de carícias tresmalhava em rostos lisos com imoderada doçura e afeição. No entorno dos bares alternativos, com garrafas de cerveja e brasas alaranjadas nas mãos, gente jovem, em posse da mesma alegria coletiva, discutia efervescente, ora frivolidades culturais, ora frivolidades acadêmico-pedantes. Quase todos que se arriscavam na madrugada, por terem consciência de que o corpo pode se sentir cansado antes do tempo esperado, tinham seus veículos próprios, fato que lhes garantia a benesse de poderem retornar a hora que quisessem para suas casas. Como se esse cansaço não dependesse unicamente do vigor físico, a bebida pode ser importante agravante para que as pernas claudiquem mais cedo e os olhos pesem. Quando isso ocorre, como se pode supor, o degenerado paga a conta e toma o caminho de volta. Outros, nenhum pouco esgotados e já transtornados pela cerveja, estendem a noite indo para cantos diversos, à procura de mais diversão e álcool. Como com frente a esses aglomerados de gente pode-se escandir elevado número de mulheres bonitas, os mais aventureiros dos jovens, fazendo jus ao direito de amostrar-se e chamar atenção dessas mancebas, empinam suas motos super velozes e queimam os pneus de seus carros modernos. Convergindo a todos a possibilidade do acidente, alguns, por destino ou acaso, se vêem vítimas. De heróis para si, confiantes nas suas habilidades automobilísticas, passam a corpo prostrado feito merda no chão, encimado sobre poça de sangue soberba e rodeado por transeuntes curiosos, agonizando dores silenciosas e impossíveis a quem não as sente e só observa. Foi isso que vi na quarta-feira, desejando profundamente a morte de dois idiotas. Que há de injusto nisso?

2 comentários:

  1. "Idiotas". Palavra perfeita para classificar tal tipo de gente. Infelizmente é o que sobra na sociedade, portanto, não há nada de injusto em desejar-lhes a morte.

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