quinta-feira, 21 de abril de 2011

Das rupturas

Das rupturas – devemos pisotear àquelas certezas para as quais a dúvida jamais se volta. O homem que não põe suas convicções sob risco, tornando-se repositório de profundidades pouco profundas, é um doente incapacitado para as idéias e para a cidade. Só devemos acreditar em convicções que se auto-perscrutam e que por isso, por negligenciarem toda e qualquer postura ereta e definitiva, não são tão convictas sobre si mesmas. Tal atitude parece compor o quadro de teorias fajutas que vemos nascer, dia após dia, na contemporaneidade. Advirto-lhes a não pensarem, contudo, dessa forma, uma vez que este rigor de lucidez que impomos a nós mesmos pretende combater justamente os que com meias-verdades nos atacam. Suspeitar das crendices em que projetamos as nossas demências é, antes, uma maneira de selecionarmos o que há de mais concreto e orgânico entre o amontoado de ensinamentos que diariamente recebemos. O homem sensato deve estar possesso da dúvida, deve desejar com loucura o verossímil, pois a primeira aparelha os meios com os quais alcançamos o segundo, de tal forma que, diante do que é exposto com muita segurança pela boca alheia, o substrato do que é falado rapidamente é peneirado, restando a nós, interlocutores involuntários, somente as palavras e frases mais moderadas, em razão das quais podemos viver com maior sobriedade.

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