domingo, 17 de abril de 2011

Encontro Vocacional

Passei o último final de semana enclausurado no Convento Nossa Senhora do Carmo, na cidade de São Cristovão, em companhia de outros postulantes à vida religiosa e de frades carmelitas. Em agradecimento ao frei e amigo de universidade que me convidou a ter essa experiência totalmente diferente das que vivenciei nesses meus vinte anos de vida, dedico-lhe as simplórias linhas dessa pequena meditação sobre os momentos áureos e tranqüilos de que fui testemunha estando lá dentro.

Talvez debochassem da minha resolução os amigos demasiado conscienciosos que fiz nos três últimos anos. Certamente, vendo-me eles prestes a entrar na condução que faz linha entre Aracaju e São Cristovão, colocar-se-iam em dúvida no que concerne à minha fé, uma vez que a primeira barreira que se apresentava em carne-viva aos meus olhos era motivo suficiente para enfraquecer a vontade de finalmente ter uma experiência religiosa verdadeira que desde o começo do ano venho alimentando. Observando-me, porém, espremido à janela do ônibus pela gente trabalhadora que retornava do êxodo rural, sem apoio onde eu pudesse me escorar com pelo menos uma das mãos, talvez mudassem, já aí, de postura, pois o contato com aquelas pessoas embrutecidas, em vez de frustrar à minha resolução, enchia-me de humanidade e vigor. Todavia, não omitindo para aqueles assustados com essa minha atitude a integralidade dos fatos, mesmo sendo conduzido para o convento por um sentimento descomunal e liberto, ao longo do percurso não cessava de problematizar a quem eu agradava tomando esse caminho: se a mim, se a Deus ou à minha mãe. Não posso me aprofundar nesse ponto – o que tenho feito, valendo-me da sinceridade, parece ser conseqüência de delírios exacerbados.

Lá dentro a vida transcorre calma e tudo é feito em comunhão. O clima consensual, para quem vivencia a realidade dos carmelitas por apenas três dias, figura-se bastante agradável. Todos agem de modo a garantir a ordem, lançando mão de todo tipo de esforço para que o silêncio inquebrantável imposto pelo rigor arquitetônico do prédio antigo não seja subvertido, vindo à tona, assim, torvelinhos furiosos iguais aos que vemos aqui fora. A despeito dos descrentes na mística, as orações específicas da ordem, sempre cantaroladas e feitas no decorrer do dia, preenchem cada alma de sensação divina, de modo que todos agem, após essas orações, como que extasiados do sentimento de Deus. Noutras palavras, a experiência religiosa, dentro de um seminário, revela-se pura, orgânica, permitindo ao fiel, caso se deixe imergir no universo espiritual do ambiente, esterilizar-se das vicissitudes do mundo e ao mesmo anteparar sua fé.

Desse modo, uma vez estando lá dentro e compartilhando fidedignamente do modo de vida levado pelos freis, os apelos carnais que nos são transmitidos pelo mundo são compensados com o endosso das benesses espirituais garantidas pela vida religiosa. Sem dúvida alguma, conhecer o dia a dia dos frades me tirou mais um pouco do senso comum.

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