quarta-feira, 6 de abril de 2011

Meu primeiro poema concreto

O Padre Pedro/Campus é, para os estudantes, um estágio da vida a ser superado com a aquisição do veículo próprio. Entre uma conversa filosófica e outra, o dilema da comodidade surge como meta individual e o conhecimento, longe de remodelar o presente, é senão perfumaria. Nas salas, nos corredores, nos pequenos moquiços onde se fuma e bebe-se café, idílios torneados de códigos lingüísticos, específicos e inapreensíveis, permutam entre uma boca inteligente e outra. A vida, pulsando agonizante para além dos muros da universidade, torna-se reminiscência dentro das discussões franqueadas por cada teoria. Temos, assim, o crepúsculo do bom senso, a ascensão de uma ciência que gaba-se até de suas ninharias. Desmembrando a suposição de que no ensino superior há pessoas críticas, o deslize de todas elas em momentos definitivos da vida prática as condena, ao passo que, ainda que conheçam diversos pastichos argumentativos, o discernimento que possuem é vazio de valor modificatório e utilizado, somente, como meio de se alcançar aquilo que é posto como o último e principal sobejo. Marginalizada a função social da academia, pesquisas inúteis acumulam-se em arquivos ofuscados pelo pó e o corpo acadêmico, na eterna lapidação de temas duvidosos e herméticos, sonha em galgar a alta hierarquia dos departamentos extraindo a última verdade de um cânone dessecado. Festividades colossais, ao começo de cada período, afugentam, seja de perto dos calouros ou dos veteranos, a inteligência, motivo pelo qual, apartados da disputa os fins de cada programa, elege-se, ou não, uma chapa para o DCE. Tanto maior o circo, tanto mais ornado o espetáculo, mais tamponada também a verdade e inebriado cada olho. A ressurreição da seriedade é desejada por umas poucas almas sensíveis, mas, a contrapelo da vontade destas, o coro niilista pela descrença parece se justificar, posto que cada caractere da universidade segue em contra-fluxo com a esperança. Aquele dos valores fraternais e dos desejos simples está só, quando não é seduzido pelos detratores da moral. Frustradas as expectativas quixotescas do período anterior à estada na universidade, o aluno habitua-se ao degredo, fazendo dos possíveis logros futuros no mercado de trabalho a barra onde se apóia para suportar a derrocada do presente. O amanhã é visto como um oásis e, nele, a subjetividade deteriorada, em êxtase e expectativa, pode descansar. Ululando notas diminutas e repetitivas, como que comprimindo na garganta palavras necessárias, a UFS resiste tendo diante de si a alentadora possibilidade da morte definitiva. Pela morte e ressurreição da UFS!

Nenhum comentário:

Postar um comentário