sábado, 26 de março de 2011

Saudade

Imóvel, não muito distante, o rosto pálido de Proust, apoiado sobre uma mão grudada ao queixo, me olha com desconsolo e tédio. Em busca do tempo perdido, três tomos em que foram comprimidas incontáveis horas francesas, faltando-lhes, no entanto, a música cotidiana da descarga e da moto velha do vizinho ao lado. O celular emite notas agudas e, em função do susto, cria-se a tensão para saber quem é. As repetidas chamadas fundem-se ao escuro e todos os móveis da sala despertam ao clarão da luz amarelecida. Uma tia de não sei onde sente saudades. Eu também. Não sei de quê.

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