sexta-feira, 24 de junho de 2011

Para um coração gelado

Se eu lhe encontrasse de novo parada, encerrando no rosto os matizes fosforescentes da noite, cerraria talvez os olhos, abrindo a boca timidamente para um outro sorriso. Desejaria que entre os seus dedos estivesse em brasas o mesmo cigarro, aquele que da outra vez disputara espaço com uma pequena lata de cerveja nas suas mãos. Queria ainda os seus cabelos suados, com cada fio conservado na mesma dispersão, retesando neles a essência morna da dança que lhe extenuara o corpo, a qual persiste em se impor muito viva sobre a minha memória, projetando-se como uma ruína antiga e bela frente aos momentos contemplativos em que na minha face se contornam traços distantes. Mas enquanto não concebe ao seu pobre lacaio sequer os ossos da existência por que lhe adoram tantos, e enquanto por entre as suas carnes esconder como uma cuba o coração que lhe mantém as pernas firmes, a dor que torna destemperados os meus dias foscos será ainda carne, e prosseguirá a franzir esse rosto onde se revelam os infortúnios de todos os infelizes, pois estar apaixonado arde...

Um comentário:

  1. ESTAR APAIXONADO ARDE!

    E eu escrevo isto com letras mais do que maiúsculas, querido!

    WPC>

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