sábado, 29 de outubro de 2011

Passeio pela caverna

Onde a saída, as coisas segundo suas dimensões e cores primárias - onde, portanto, o homem e a verdade? Para além desta superfície disforme, deste claustro obscuro e gélido, destas sombras que nos ludibriam os olhos jamais conhecedores do verdadeiro e razoável, o quê - que distinto paraíso alcançado por intermédio do bom senso, que distinta face em que se inscrevem os verbos mais vivos, que parque inexistente em que tudo é alegria e sobriedade? A última fagulha de curiosidade, empolada pelos rubros músculos do coração, tem nos matado dia após dia, encimando-se sobre o direito natural do homem à sua tristeza pelo tempo presente, sobre o ânimo crepuscular e sombrio causado pelos disparates sejam políticos ou não - e a isso tudo em definitivo, encerrando os horizontes a partir dos quais a vida se fortalece, encontrando em si mesma a fonte que lhe permite continuar jorrando, chamaram ousadamente de saudável, encontraram aí a saúde vicejante que procuraram os antigos. Mas nós vimos através da aurora, contemplamos perplexos buracos negros, estendemos as nossas liberdades sobre o comprimento infinito do mundo, e nos perdemos pelo labirinto que desbravamos em êxtase, saboreando a mudez de cada muro e a apreensão do próximo passo, cansados das promessas de um mundo além, livre da frialdade e feiúra desta caverna – agora nós a amamos, nos condenamos a ela!

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