sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Singularidade e intransferência

a crítica literária mais conservadora é sempre ridícula - não se pode dar palpites tachativos sobre o que não se viu e sentiu. o que distingue um poema de um texto filosófico é basicamente isso: sua particularidade intransferível e a falta de pretensão em tornar-se expressão genérica. enquanto o poeta manda ao mundo mensagens sobre as suas sensações, consciente das limitações dos sentidos através dos quais absorveu as imagens presentes em sua literatura, o filósofo, valendo-se de uma "qaeda incorpore sui generis", conjuga os primeiros verbos do seu tratado esperando ser retorquido, posto que nele predomina aquela primeira pessoa casmurra destilando sentenças imperativas. ora, à nada mais que isso se resume o debate de ideias: um descampado sombrio onde soldados geniosos empunham lâminas afiadas sob a voz irascível de um general feito em músculos e patriotismo, sem que haja tempo disponível para que um deles se lembre de observar o que merece ser reavivado depois - matam e morrem, na verdade, sem cunhar sobre uma folha algumas palavras tristes com o próprio sangue. os atavios que conferem beleza à experiência fazem de cada vida uma esfinge, sendo impossível portanto a sugestão de uma pedagogia de adestramento competente e coesa, porque o espírito, se não é na verdade o correspondente de uma sucessão de processos fisiológicos aos quais se chega por intermédio de vários fatores, é uma matriz de impulsos selvagens e animalescos, com fortes tendências à negação e à porralouquice.

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