sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Metafísica da foto

As fotos são os objetos com o maior potencial de enclausuramento de obscuridade que conheço. Quanto mais diversa é a imagem congelada, quanto maior é o número de pessoas grudadas ao papel, quanto mais largos são os trejeitos e os sorrisos de quem está sendo fotografado, mais obscura, depois, esta imagem se tornará, podendo mesmo alcançar um nível ainda mais acentuado se as figuras registradas são, em sua maioria, velhos e gente de meia-idade. Os espíritos cuja sensibilidade não deixa com que os detalhes sejam extraviados, em nome da sensação de estranhamento de que são afeitos apreciam sempre fotos velhas. Cada rosto retocado pelo amálgama decorrente do passar do tempo, empuxados até o coração de quem os espreita fervorosamente, recende odores desconhecidos, podendo-se especular, pela densidade com que chegam às narinas, que se trate de alguma coisa fria. Ora, não seria esse o cheiro da morte?

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