quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Alvorada

Que manhã detestável! Os pássaros arrolam com suas patas grudadas aos fios de alta tensão, abrem as asas curtas em direção ao infinito e sibilam – desesperados – a dor de existir em coro impecável. “Nem sonho, nem cismo”. O mesmo entrevero reouve o desvão poeirento da memória e o esmera cuidadosamente com os quadros mais tristes de uma idade abandonada em tempos longínquos: temos aí os candeeiros nodoando as paredes sem reboco nas noites frias, o estalido doloroso dos galhos quebrando ao longe, a fumaça laranja da estrada batida fundando redemoinhos apressados. Quantos passos inúteis! E este caminho desnecessário sobrevive como chaga: parasita, derrui as aspirações, as esperanças e toda ilusão de felicidade... Só se vive uma história: a fatídica.

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