sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Sobre mendigos e moradores de rua

Os moradores de rua guardam, todos eles, um mistério, um fascínio de ordem mística, transcendental: diante do primeiro que avistamos, qual não é o nosso terror ao nos inquirirmos sobre quem ele é! O simples fato de ter debandado, de ter deixado para trás toda ordem de imprecações sociais mesquinhas, livrando-se radicalmente dos limites impostos pelos amigos e familiares, trazendo à vida concreta o rigor de um pensamento que fez da sociedade uma aporia, é de se admirar. Sim, sou condescendente a eles mais do que a qualquer filósofo ou poeta; segredo-lhes uma afeição que, se soubessem, quando os cruzasse me sorririam como a um amigo. Jamais seria encimado pelo halo que os cobre: há em mim a necessidade do banho, das três refeições diárias ao horário certo - há em mim, sobretudo, as reticências e inseguranças de quem lida com teorias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário