quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sobre teóricos e proletários

Pode-se escrever sobre a sociedade uma linha que os leitores, no trânsito de suas vidas, já não a tenham suposto? Os resíduos da cultura literária sobrevivem da obviedade subscrita na história e da consequente previsibilidade que demarca o seu devir; não obstante, o movimento concêntrico da atividade intelectual perfaz o âmago de todos os problemas a uma distância sempre muito segura: pois lá, aonde os imperadores caem e se levantam subjugando a todos, os exemplos fatídicos transparecem o quão arriscado é tentar alternar de perto a ordem de nossa desgraça. Daí a caricatura do reino comum é esfacelada por uma crítica cujo verso opõe as demandas do sujeito contemporâneo àquilo que concederia a todos tanto a sua salvação corpórea quanto espiritual. Entretanto, se dissuadem os incautos aduzindo as benesses da utopia, se entrevem com sua ciência burguesa as motivações do fracasso coletivo, também são precavidos em acrescentar restrições à performance que haviam ensaiado na teoria: isto é, os enfermeiros da sociedade que se autoproscreveram do proletariado para ocupar cátedras em universidades e vagas nas repartições públicas pecam ao expor um emaranhado de alternativas e depois se voltar contra o que dizem defender condenando o igualitarismo e as ações austeras – respectivamente, em linguagem mais clara, o socialismo e a revolução!

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