domingo, 9 de junho de 2013

Nota sobre epistemologia

Tendo como objetivo central a incursão metacrítica sobre as inferências teórico-metodológicas acerca do conhecimento, a epistemologia figura como disciplina de importância inquestionável para o progresso da atividade filosófica, uma vez que a contorna de elementos cuja singularidade engendra uma visível oposição argumentativa com as ciências no que diz respeito às discussões afiançadas sobre o conhecimento.

Sua finalidade tende a eliminar os excessos característicos à atividade teórica, estabelecendo, mediante recurso ao exame crítico rígido, a validade subjacente entre os elementos postulados. Criando limites entre conhecimento comum e reflexivo, traz à tona o motivo pelo qual o saber conflui com todo tipo de fatuidade: ao voltar-se conscienciosamente sobre si mesmo, tal como se preconiza desde a antiguidade, o conhecimento filosófico descarta qualquer infalibilidade, reafirma o seu caráter ético, sendo, sobretudo por isso, mais honesto quanto a suas limitações e potencial de alcance.

Ora, a epistemologia se funda mesmo na necessidade de se justificar as nossas crenças, de calcar o que ajuizamos sobre bases sólidas, de modo a concentrar no esforço de sua tarefa a ruptura do discurso intelectual com as formas mais genéricas de se conceber o mundo, atando os meios e instrumentos utilizados na produção reflexiva a um ininterrupto exame crítico cujo ponto culminante é o ceticismo.

Quando radicalizamos nossas indagações sobre os dados a partir dos quais inferimos, obliteramos a fecundidade do conhecimento porque, de um modo ou de outro, nossas crenças parecem se sustentar lateralmente, marginando do seu raio de ação tudo o que não é correlato aos seus próprios interesses. Daí, portanto, a clássica postura cética de suspender os juízos morais: fixados que são a um agrupamento de questões locais, quase nunca satisfazem os interesses gerais na medida em que se fundam sob a égide da experiência e das crenças mediatas.

Desse modo, a teoria do conhecimento parece estar interessada, antes de tudo, nas conclusões, naquilo que pretende o exercício cognitivo formal: se, por um lado, reconhece na dúvida metódica o seu instrumento de trabalho mais valioso, posto que através dela preenche de vida a especificidade da análise filosófica do conhecimento, de outro, porém, o ceticismo parece encerrar o seu interesse mais central – isto é, a investigação das possibilidades do conhecimento.

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