terça-feira, 31 de maio de 2022

#

Colônia Penal. A máquina projetada por Kafka em Na Colônia Penal cumpre a sinistra tarefa de torturar um corpo humano dentro de uma temporalidade em que a introjeção da pena propaga a violência obedecendo etapas que atenuam a sensação de dor. Cada mecanismo envolvido no seu funcionamento é produto de complexas pesquisas, dolorosos cálculos – do método científico. Os corpos sentenciados recebidos pelo engenho são prontamente amordaçados, porque o silenciamento configura tanto a indisponibilidade da razão ao sujeito oprimido como a relutância dos poderes em ouvir os seus gemidos: a máquina atua sobre as sensibilidades alargando-as, tornando-as resilientes, fomentando nos atores sociais uma indolência mútua, que absorve os apenados e os interlocutores de seu flagelo a um círculo frio de indiferença. O método antigo, apesar de festejado com nostalgia pelo comandante das operações de tortura na colônia, é ainda aquele que impera, sem conceder às vítimas os remédios de um julgamento justo. mesmo que ressalvado pelo suposto humanismo dos novos gestores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário