terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Aviltando o cinza

a aurora se mostra através desse sol despido,
criando ao longe, na infinita linha horizontal que divide o globo,
contrastantes paisagens com as incontáveis plataformas do petróleo.
o sol se rebusca em traços complexos, queimando com maior intensidade
as peles miscigenadas das pessoas sobre a areia da praia,
inda dividindo os vagões democráticos das linhas rodoviárias desgastadas
e das rápidas trilhas do transporte ferroviário.

cai tudo sobre as nossas cabeças,
a idéia de morte é assim tão repentina e nos telejornais
há a nova crise e a enfermidade que se declara para murchar
as gordas vacas da nossa assistência deixada de lado;
tudo por se fazer e Moisés fora buscar a verdade nos altos cumes
desse mundo desconhecido. Zaratustra também. porque todos são o ideal,
as oferendas ao objeto e a procura pela sabedoria!
mas a verdade já me transbordou faz tempo e é noite friorenta
por dentro das entranhas pois não existe sabedoria nenhuma
senão a certeza inequívoca de que tudo quanto se põe de pé
vai pro fosso, porque o fosso é o céu e inferno juntos e ao mesmo tempo,
um leito de hospital onde descansam os nossos corpos
de toda a realidade metafísica.

elevado ao paraíso onde tudo apodrece,
empertigando os sonhos com frases gordurosas que comi em Shakespeare,
porque Shakespeare é a verdade e desde os tempos que não me conheço
Shakespeare e as suas obras foram a minha disciplina
e em cada boca que se movimenta para me sorrir há um Montecchio e um Capuleto
e Julietas choram porque todos os meus amores são de febres;
ah chuvas onde me molho e esporro, cinza, a desolação
por não haver um simples afago de humanidade,
com o frio de um clima nublado cingindo as feições inermes
desse meu rosto cheio de pêlos lembrando os personagens românticos de Hugo;
ah fotos que se embaralham tristes por todos os cantos do meu quarto,
tanta felicidade e memórias petrificadas em folhas de papel liso
que não podem ser tantas e relevantes porque não há fotos
congelando minuto a minuto da minha vida...

então ser assim, pela metade, como os peraltas alunos da sétima série
com o desejo inocente de ser um bombeiro...

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