quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Justine

ó Justine, sob quais lençóis
escondeste as tuas ancas?
preciso rápido de uma bebida
que destrua, por uns momentos,
esses neurônios que me apertam o cérebro
pervertendo os sentidos...

falo-te do fundo de um escuro imenso,
à uma alta hora que nem sei da madrugada,
ando tão triste comigo e com tudo
que me é estranha essa sensação de vida
me arrancando ânsias opressoras de dentro da pele
e me apregoando ao ópio que é cada coisa
e se fazendo em mim tão grande

e quando acordo, Justine,
há um muro a cada dia mais alto
defronte do patamar da cama na qual atravesso noites,
e devo pulá-lo, mesmo com essa gordura
me preenchendo o ventre e adornando o pescoço,
pois o mundo me chama, sempre muito brusco, dando gritos altos
e, quando não o atendemos, Justine,
há aquela censura,
aquela repressão mais larga
que põe algodão nas nossas narinas
e nos ordena fecharmos a cara
como um Werther triste

com a tua ausência, Justine,
a vida, que já me dói tanto,
passa quase que desconhecida
e sem nenhuma razão...
é... aquela complexa
que os homens sempre procuram
e escrevem nos livros...
há tantos livros que abordam isso, minha cara...
nós sempre aprendemos sobre eles em qualquer parte do mundo

salvo o fato de não haver razão nenhuma, Justine,
acredito que você acrescentava vida
aos meus dias mornos,
tão exatos quanto lavadeiras
esfregando roupas no fundo do quintal,
tão extáticos como carros enfileirados
sobre uma avenida grande e engarrafada
num dia quente

preciso me despedir, e sei que com uma frase impactante,
pois assim são todas as cartas
nas quais se percebe aquele amor ultrajante
que não recorre ao apelo da carne
e por isso não é amor...

acabo assim, Justine, falando-te em amor e carne,
com todo o hormônio que corre pelo meu sexo
clamando-te uma vez mais aquela viagem
por entre as estrelas desta cama...

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