sábado, 13 de fevereiro de 2010

Bons Selvagens

Ruminemos, por entre os becos mórbidos da nossa realidade, a que se deveu o afogamento dos nossos pés nessa alegria descabida e sem razão, onde uma massa de esfomeados, tratados a mingau de farinha por seus protetores, sujeitos desde há anos às mesmas condições que hoje os fazem tão bestas quanto sempre, boas mucamas preparando o jantar de mesmo cardápio a fim de servirem as mesas dos grandes salões tombados como forma de se preservar a cultura, evidenciando o caráter contraditório que há por detrás de cada peça caduca, nas quais os cupins e todo tipo de traça fazem a sua morada, não impetram por suas dívidas junto a estes que sempre os denegaram. Decerto que devemos creditar validade à conservação da insolência, lhes fazendo deferências como meio de provar-lhes que vivemos enfim sob um regime republicano e democrático, tendo fugido de nós o estigma colonial de selvagens e impuros, agora despidos das palhas da vestimenta rudimentar dos tempos dos índios dizimados por portugueses de toda estirpe e adequados à seda confortável e luxuosa das roupas finas, inapropriados a dividir espaço com a realeza das cortesãs e dos zangões, e tudo isso para se proferir aos ouvidos de todas as nações que, tanto quanto eles, também nós temos memória. Todo brasileiro deveria ser xenófobo para com os lusitanos, sobretudo.

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