sábado, 6 de fevereiro de 2010

Sem Nome 21

eu quero triste o desenrolar de uma tarde lerda,
onde não haja gente e nem pássaros que silvem,
cansado como um maquinário velho
que tivesse de atravessar, com correias
chamuscadas de areia e ferrugem,
um lodaçal pesado e intransponível,
de tão profundo.

enoja-me quem deseja coisas leves,
recostando ao parapeito de utopias fúteis
o corpo amordaçado de projeções ultrajantes.
viver deve ser sem pena e cada respirar
tem de fazer arder à ferida aberta do existir.

vazio, como um copo entornado,
traz-me leveza essa quase felicidade
que é negar a tudo e a si mesmo.
se não houvesse o outro,
escarrando sobre mim o muco de
sua existência execrável,
e o desejar humano, consubstanciando
a possibilidade de uma vida parada
num torvelinho de sonhos murchados pela frustração,
a Terra decerto seria um paraíso.

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