segunda-feira, 26 de abril de 2010

Destino

o tempo baterá às minhas costas
como o carteiro apressado que traz
os talões de cobrança ao final
de cada mês.

estarei sentado sobre o canapé
velho fornicado pelos gatos.
comprado num brechó imundo
da rua da frente há 5 anos. com cervejas
e batatas fritas ao alcance das minhas
mãos sujas de olho.
torcendo pelo time de coração
como quem precisa de deus
para julgar que há motivo.

a mulher sairá da cozinha apressada.
a tez franzida mostrará o peso dos
aparelhos de cozinha. o suor lhe escorrerá
pelo pescoço encharcando o algodão
de sua blusa rosa com detalhes rubros.

Juninho atravessará a sala nesse instante.
derrubando no chão alvejado pela manhã
o vaso de flores que se ganhara da minha sogra.
os gritos altos me impedirão a audição
dos comentários. mas só virarei
o rosto como forma de demonstrar
o meu desprezo àquela cena
onde mãe briga com filho.
pois o destino irrompeu por um caminho
bem distante. o qual nem eu nem talvez
deus esperávamos.

voltarei ao jogo com
a língua salivando em ânsia.
os jogadores estarão correndo
como antes sobre a tela.
pedirei que Juninho vá buscar
outra cerveja. e esquecerei
de tudo por força do hábito.

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